Braço de Prata

Um antes e depois da Expo 98

Braço de Prata, uma zona que está na memória de todos como plena de movimento em torno da sua estação de comboios, pela chegada de todos os operários para as antigas fábricas do Poço do Bispo e Marvila Velha, é hoje, uma zona um pouco mais sossegada, em que o maior movimento é em torno do centro de saúde, da faculdade ERISA e dos armazéns onde está a TSF.
Aqui, na zona mais junto ao rio, ainda se mantêm os prédios baixos, de traça antiga, contrariamente ao novo Vale Formoso, em que já se podem ver novos e modernos edifícios de habitação, junto à Associação Ester Janz.

Braço de Prata, assim ficou conhecida, pois aquele que foi o dono da Quinta da Matinha, António de Sousa Meneses, usava um braço postiço de prata, depois de ter perdido o seu próprio braço durante uma batalha, ficando com a alcunha e dando nome a toda a zona por onde tinha as suas terras.
Hoje, na Rua do Vale Formoso de Baixo, ainda se podem ver as casas e dos antigos trabalhadores da Fábrica de Gás da Matinha. Aquando da Expo 98, a fábrica foi desativada, ficando apenas as estruturas do complexo industrial.

Junto ao Centro de Saúde, numa farmácia com mais de 49 anos de existência, o Jornal de Marvila falou com o Sr. António Pina, em Marvila há 60 anos, que recorda o movimento frenético de quem saía do comboio em direção ao trabalho, “havia aqui movimento que nunca mais acabava, mas agora é um tédio, não se vê quase ninguém, então crianças e jovens não há mesmo”. Ao olhar em volta veem-se prédios antigos, que o Sr. António Pina conta estarem “iguais ao que sempre foram, com mais ou menos obras, o que vemos permanece igual, mas dá muita pena chegar ao fim de semana e não haver aqui vivalma. Antigamente havia aqui muito comércio, mercearias e tabernas onde todas as pessoas vinham, mas foi tudo fechando e a população que aqui estava, ou morreu ou foi para outro sítio viver.” Mais à frente, Vitória Casanova, a morar em Marvila há 66 anos, recorda as histórias que os mais velhos lhe contavam sobre o pátio onde vive e, que nada tem a ver com o que era, em contraponto com toda a rua que “está igual, apenas com muito menos comércio”, confessa. “Isto eram uns quintais abertos do Convento. Aliás a minha casa está onde era a antiga capela”, conta-nos à medida que nos leva numa visita por dentro da sua casa,mostrando as arcadas do que já foi uma sacristia, uma taberna e uma carvoaria. Vitória Casanova contou-nos ainda que no cimo dos terrenos onde hoje se encontram as restantes estruturas da fábrica de gás, havia uma quinta, conhecida como a Quinta das Parteiras, onde iam comprar leite e legumes. “Mais junto ao rio, nessa quinta, era o sítio onde a polícia tinha os cavalos e aqueles campos para eles saltarem, então os garotos, fugiam aqui pelo meio para poderem ir ver os cavalinhos, era muito engraçado”, recorda Vitória.

A meio da conversa percebemos que estamos a falar com a atual presidente da Cooperativa de Braço de Prata, “a cooperativa, de que sou presidente, tinha muita coisa também, carne, mercearia, bebida, eu sei lá, mas agora já não resta muito. Grande parte dos sócios morreram e as condições do edifício já não deixam que esteja lá ninguém em segurança, por isso mais vale estar fechado”, confessa. No entanto, recordando tempos da sua juventude, diz com saudade que “esses eram tempos em que, apesar da miséria – que nada tem a ver com a crise que se vive hoje, era muito pior – as pessoas conviviam muito mais, os jovens estavam mais tempo na rua e importavam-se com os costumes, agora já não ligam muito”. Com o mesmo aspeto exterior, entre ruas, ruelas e azinhagas que ainda se avistam, persistem duas mercearias, um barbeiro e alguns cafés lembrando o movimento de Braço de Prata de outros tempos, outrora plena de pessoas a circular.

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